Lendas não são apenas histórias que contamos às crianças. Elas contam de maneira mais fantástica a história de um povo ou de um lugar e ainda são uma forma de entretenimento há gerações! Contaremos aqui uma lenda italiana muito antiga da região do Vêneto, na Itália.
A lenda do Vale dos Sete Mortos é contada pelo povo vêneto há gerações. Existem relatos escritos que provam que a região onde se passa a história é chamada de Valle dei Sette Morti, ou “Vale dos 7 Mortos” em português, desde 1199! Sendo assim, fica até difícil saber se a lenda deu nome ao lugar ou se o nome do lugar inspirou essa lenda italiana.
A história se passa na cidade de Chioggia, que faz parte da região metropolitana de Veneza. Chioggia fica à beira mar e possui lagoas, como a Laguna di Venezia, local de ambientação da lenda.
Como essa história é muito antiga, existem muitas versões dela. Contaremos aqui uma das versões mais difundidas dessa comovente lenda italiana.
A lenda do vale dos 7 mortos
Sete pescadores faziam parte da tripulação de um barco pesqueiro do lago de Veneza. Eles já se preparavam para encerrar o dia de trabalho, quando jogaram as redes mais uma vez. Desta vez, ao invés de peixes, eles trouxeram das águas do lago o corpo de um homem. Eles deixaram o cadáver no convés, para levá-lo para enterrar em terra firme.
Logo após essa surpresa desagradável, uma tempestade os atingiu e os forçou a se refugiarem em um velho casarão perto das margens do lago, onde esperariam o mau tempo passar.
Eles se acomodaram no casarão, acenderam a lareira e começaram a preparar uma polenta, afinal de contas, estavam famintos. Naquele momento, perceberam que ali dentro da casa havia um menino e um cachorro. A criança tinha sido abandonada pelos pais e estava faminta e amedrontada.
O garoto se aproximou timidamente e pediu aos homens um pedaço de polenta, pois já não comia há vários dias. Os pescadores, contudo, não deram importância e ignoraram a criança.
Depois de muita insistência, um dos homens disse: “Primeiro acorde nosso companheiro que ficou no barco, se quiser um pedaço de polenta”.
Com esperança, o menino correu ao barco e tentou acordar o homem que parecia estar dormindo, mas que não despertava de jeito nenhum. A criança voltou ao casarão e disse que o colega deles não acordava, mas os pescadores, rindo, disseram que só dariam polenta ao garoto quando ele acordasse o homem no barco.
O milagre acontece
Chorando, a criança voltou à embarcação e implorou para que o homem acordasse, tanto que um milagre aconteceu e o homem se levantou.
O menino voltou ao casarão e disse que o colega deles tinha acordado e que, como combinado, queria o seu pedaço de polenta. Os homens gargalharam e fizeram piadas com a criança, até que viram surgir pela porta o homem afogado.
Os pescadores se ajoelharam no chão, cheios de medo e espanto e ouviram o homem dizer: “Vocês brincaram com a inocência de uma criança e não tiveram compaixão com um pobre menino faminto e abandonado. Vocês são a personificação dos sete pecados e não merecem piedade nem misericórdia. Que a criança seja salva, pois ela representa a inocência e seu cão, a fidelidade”. Enquanto o homem apontava para os pescadores e dizia qual pecado cada um representava, eles iam caindo mortos ao chão.
Depois disso, o homem mergulhou de volta nas águas.
Na manhã seguinte, pessoas de um barco que passava pelo lago desceram no casarão e encontraram sete cadáveres, uma criança e um cachorro. Desde então, o local ficou conhecido com o Vale dos Sete Mortos.
