Se a Itália é tão bela e próspera, por que tantos imigrantes italianos foram para o Brasil?

Bem, a resposta está no fato de que, sim, bela a Itália sempre foi, já próspera, nem tanto.

Na segunda metade do século XIX, a Itália passava por uma grande dificuldade econômica. O país era essencialmente rural e muitas terras estavam nas mãos de poucas pessoas, formando, assim, grandes latifúndios, que, como produziam muito, podiam vender sua produção mais barata, deixando em desvantagem os pequenos produtores que faziam agricultura de subsistência e vendiam o excedente da produção para ganhar dinheiro. Além disso, os pequenos proprietários de terra deviam pagar altíssimos impostos, piorando ainda mais a situação.

As guerras de unificação, que juntaram vários territórios, formando a Itália como um único país, deixou debilitada a economia do novo país que surgia. Os vários anos de guerra custaram a vida de muitas pessoas, além de ter demandado muitos recursos.

Outros fatores dificultavam a vida dos italianos, como o crescimento populacional, alta taxa de desemprego – essa causada, em grande parte, pelo fim das guerras e transição do sistema feudal para o capitalista – e consequente fome entre a população.

A imigração

Não só a Itália passava por dificuldades, a maioria dos países europeus também enfrentava pobreza e fome.

Estima-se que entre a segunda metade dos anos 1800 e a Primeira Guerra Mundial, mais de 50 milhões de europeus imigraram. Grande parte foi para a América do Norte, mas muitos foram para a América do Sul, principalmente Argentina (5 milhões) e Brasil (3,6 milhões).

Os italianos do sul tinham preferência pelos EUA, já que a passagem de navio era mais barata e a indústria e agricultura ofereciam oportunidades para trabalhar lá por um tempo, juntar dinheiro e posteriormente retornar à Itália. Os do norte preferiam a América Latina, pois acreditavam que ali existiam melhores perspectivas de vida, menores problemas com o idioma – já que italiano, espanhol e português são línguas latinas – e maior facilidade na adaptação cultural, além da oportunidade de se tornarem donos de terra.

Enquanto isso no Brasil…

O Brasil no século XIX era um país que dependia totalmente da agricultura. Os grandes latifúndios produziam gêneros agrícolas que eram exportados e assim, geravam a riqueza do país.

Nesses latifúndios, africanos escravizados trabalhavam nas imensas plantações, porém, em 1850 o tráfico de escravos foi proibido no Brasil, o que significava que quem era escravo, continuava sendo, mas outras pessoas escravizadas estavam proibidas de entrar no país. Mais tarde, em 1888 com a Lei Áurea, a escravidão foi proibida por completo.

Algumas pessoas tendem a pensar que o fim da escravidão foi o que gerou falta de mão de obra, mas não foi bem assim. Uma parte dos ex-escravizados foi sim tentar a vida longe de onde tinha tanto sofrido, mas outra parte continuou trabalhando nas fazendas. O que gerou a falta de mão de obra foi o fim do tráfico, que já não repunha os trabalhadores que iam envelhecendo ou morrendo. A natalidade também não era capaz de suprir a cada vez maior demanda por trabalhadores rurais, principalmente nas lavouras de café.

Devido a isso, o então governo brasileiro resolveu incentivar a imigração europeia no Brasil. Com essa imigração, o país resolveria várias questões. Uma delas era a falta de mão de obra para trabalhar nas plantações, outra era a colonização das terras do sul, que precisavam ser ocupadas para serem cultivadas e, também, impedir avanços dos países vizinhos e a questão mais obscura de todas – o branqueamento da população.

A eugenia

Por mais absurdo que pareça, no final do século XIX e começo do século XX, em todo o mundo, vigorava a abominável ideia da “eugenia” (melhoramento da espécie humana usando traços desejáveis dos indivíduos e eliminando os indesejados) e baseado nessa teoria, o governo brasileiro queria a entrada de imigrantes europeus no Brasil (africanos, asiáticos e indianos eram descartados) para que “melhorassem” a raça brasileira, incentivando inclusive a miscigenação com negros e indígenas para clarear a população. Acreditavam, assim, criar seres humanos melhores, superiores, que poderiam levar o país ao patamar de primeiro mundo. Outros países fizeram o mesmo, como a Argentina.

Incentivando a imigração

Primeiro, o Brasil incentivou a vinda de imigrantes alemães e austríacos, quem julgavam ser “os mais qualificados” – seja por suas características físicas, seja por suas técnicas agrícolas – mas o plano deu errado, quando esses imigrantes, ao invés de se mesclarem à população local, se isolaram em suas colônias no sul do país. A cultura desses povos não era compatível com a brasileira.

Como o projeto de imigração germânica não deu os resultados esperados, o governo resolveu incentivar a imigração de povos latinos, como o português, espanhol e italiano. Sendo de línguas e culturas parecidas, a assimilação cultural seria mais fácil.

Rumo ao Brasil

imigrantes italianos
Famiglia Nanni – bravos imigrantes e oriundi da Emilia-Romagna

A imigração italiana em massa no Brasil começou em 1870 e teve seu período de maior intensidade entre 1887 e 1902. No período entre 1876 e 1920, cerca de 1,2 milhão de italianos fizeram do Brasil seu novo lar.

A maior parte dos imigrantes italianos vinha do norte italiano, mais especificamente da região do Vêneto. Eles eram agricultores, que passavam grandes dificuldades para manter suas terras, ou que as tinham perdido e sonhavam em poder se tornar proprietários e prosperar na América.

O perfil dos imigrantes italianos do sul era diferente, eram trabalhadores braçais, que almejavam prosperar nas cidades e não no campo, que trazia memórias de miséria.

A vantagem que o Brasil oferecia em relação aos outros países era o fato de que pagavam a passagem para os imigrantes, ainda que em muitos casos essa passagem era cobrada dos pobres estrangeiros, que se viam em dificuldades com essa dívida inesperada e indevida.

A viagem ao novo mundo

Os principais portos de onde saíam eram o de Gênova, no norte, e o de Nápoles, no sul. Outros portos, como Palermo e Veneza também foram palco para a dolorosa despedida da pátria mãe.

A viagem até o novo mundo era um pesadelo. O percurso de navio durava até 40 dias e as condições não podiam ser piores. O que não faltam são relatos de doenças que se alastravam entre os passageiros aglomerados na 3ª classe, alimentação precária, sendo até servido comida podre e toda classe de crime.

Os imigrantes desembarcavam nos portos de Santos, Rio de Janeiro e Porto Alegre e de lá eram encaminhados para os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo, onde seriam colonos – receberiam terras, que deveriam cultivar, ou seriam destinados à São Paulo e Minas Gerais, onde trabalhariam nas lavouras de café.

Legado italiano

Atualmente, de acordo com levantamento da embaixada italiana, existe cerca de 30 milhões de descendentes de italianos no Brasil. Esse é o maior número de oriundi (descendentes de imigrantes italianos) no mundo, superando inclusive os EUA e a Argentina, que receberam muito mais italianos em suas terras.

Esse número representa cerca de 15% de toda população brasileira. A maior parte dos descendentes, cerca de 50%, está concentrada no estado de São Paulo.


O Brasil é um país feito de imigrantes. Portugueses, espanhóis, africanos, japoneses, libaneses…a lista dos povos que formaram nossa população, cultura, estilo de vida e arquitetura é imensa.

O italiano foi um desses povos e, desde a sua chegada, o Brasil não foi mais o mesmo.

Podemos ver sua influência na nossa culinária, política, composição da população, nomes e sobrenomes e, inclusive, no sotaque da cidade de São Paulo!

Os imigrantes italianos enriqueceram o Brasil como um povo e nação.

Ainda que esses 30 milhões de descendentes sejam brasileiros, eles sempre terão em sua história a coragem e perseverança de seus antepassados.

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