O Fragolino é quase uma lenda. Uma bebida doce envolta em mistérios e teorias da conspiração.

Fragolino é um vinho, ou uma bebida alcoólica, já que veremos mais à frente que vinho não é a denominação correta para ele, muito doce, que antigamente era servida aos agricultores nas primeiras horas da manhã de labuta para dar “força” para o dia de trabalho pesado.

Essa mesma bebida também era consumida por jovens das regiões do Veneto e de Friuli-Venezia Giulia devido o seu sabor adocicado.

Porém, o Fragolino não se encontra hoje em lugar nenhum mais. Nem em fazendas, muito menos em supermercados, pois a lei proíbe a sua comercialização. Sim, a lei.

Quando se fala em Fragolino, quem sabe da sua existência, te dirá que é uma bebida perigosa, ilegal e mortal. Um verdadeiro tabu.

As más línguas dizem que o Fragolino primeiro te deixa cego e posteriormente te mata, sem cerimônia.

Mas por que esse “vinho” causa tanto temor? Como uma bebida chamada Fragolino (moranguinho, em português) pode te matar?

Vamos descobrir mais sobre essa fascinante história!

O princípio do Fragolino

Tudo começou há muito tempo, mais precisamente com a chegada de Colombo às Américas. Lá “descobriu-se” uma uva muito doce, que lembrava o sabor do morango (fragola, em italiano). Essa uva foi levada à Europa e dada de presente à rainha Isabella da Espanha, a qual também deu seu nome à uva.

Acredita-se que essa uva americana tenha chegado à Itália no século XIX, na região do Vêneto, que lutava contra um fungo que estava matando as videiras locais. Como essa variedade era mais resistente, ela se tornou a opção ideal!

O problema começou quando insetos chamados Filoxera, que viviam em “harmonia” com as videiras americanas, saíram dessas plantas e atacaram as videiras locais europeias, destruindo as plantas nativas, pela raiz.

Devido a esse ataque, quase fatal, os vinicultores tiveram que se adaptar.

Eles fizeram enxertos com partes de videiras americanas e partes de videiras europeias para salvar a produção de uva e vinho na Itália. As novas videiras enxertadas poderiam resistir ao ataque das pragas.

Isso mudou as videiras italianas para sempre. Tirando as videiras Etna, hoje em dia todos os outros tipos de videiras italianas são enxertos!

Os agricultores italianos vendo a resistência das videiras americanas em relação a pragas e doenças, assim como, a facilidade do cultivo e os poucos cuidados que demandavam, resolveram plantá-las ao longo de todo o território.

Cegueira, morte, fascismo e ilegalidade

O “único” problema verificado, posteriormente, é que se você transformar a uva Isabella/Fragola em vinho, as pectinas presentes em sua casca produzem metano ao invés do etanol que se produz com as outras uvas “normais”. E o metanol te deixa cego e depois te mata.

Como se o motivo acima já não fosse suficiente, a Itália fascista, tomada de grande nacionalismo, temia que uma variedade de “uva americana” se sobrepusesse sobre às variedades europeias.

Em 1936 se aprovou uma lei que permitia a posse de uva Fragola apenas para consumo próprio, nunca para venda.

Quem quisesse poderia plantar, comer, fazer vinho da uva americana apenas para consumo próprio e mais, não poderia nem chamar de vinho o “vinho” da uva Fragola, já que determinaram que só se pode chamar assim a bebida feita com uvas europeias.

Essa proibição de fazer vinhos para comercialização com uvas americanas dura até hoje, sendo nos dias atuais uma lei não só italiana, mas europeia.

A lei diz que vinhas lavrusche, ou selvagens, são proibidas de produzirem vinhos para a venda. Curiosamente, é assim que se denominam todas as variedades americanas.

Além da uva Isabella/Fragola, outras uvas americanas conhecidas são a Clinton e a Noah.

Apesar encontrarmos em supermercados e lojas pela Itália algumas garrafas que dizem conter o famigerado Fragolino, 100% de certeza que não será o vinho real, já que ele a lei o proíbe.

Algumas empresas vendem vinhos comuns cheios de açúcar e aromatizantes artificiais se fazendo passar pelo Fragolino.

A realidade por trás da lenda

A verdade sobre o Fragolino é que ele não levaria ninguém à morte.

Para se intoxicar com o metanol do vinho, você precisaria tomar cem litros desse vinho por dia durante uma semana para causar cegueira.

Mesmo se fosse possível tomar essa quantidade da bebida, o Fragolino é muito doce, enjoativo mesmo. Assim, é impossível alguém tomar grandes quantidades sem vomitar antes.

Além disso, há séculos já se conhece maneiras de reduzir os níveis de metanol na produção de vinho.

Aí fica o mistério: por que não se pode produzir Fragolino para venda, já que ele não faz mal?

A teoria mais aceita é que a produção de vinho de videiras que são imunes a pragas feriria diretamente o interesse da tão lucrativa indústria de pesticidas.

O lobby dessa indústria é muito forte e eles lucram quantias enormes com a venda de pesticidas para as videiras de toda a Itália.

Se há outro motivo para a proibição por lei dessa bebida, esse motivo não está claro.

Dizem que o Fragolino é um ótimo vinho de sobremesa, muito saboroso, apesar de muito doce, para se tomar em pequenas quantidades.

Dificilmente ele desbancaria a produção de outros vinhos na Itália. Assim, ele não representaria ameaça para a indústria de pesticidas.

No fim, o motivo de essa curiosa bebida continuar proibida continua sendo um grande e fascinante mistério.

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