Há cerca de 800 metros do nível do mar, no Valle Argentina, um dos vales dos Alpes Ligures, se situa a simpática cidade medieval de Triora. Ela faz parte da província de Imperia, no estado da Liguria, perto da fronteira com a França.

Apesar de ser o território mais extenso da província de Imperia, a cidade possui pouco mais de 350 habitantes.

Triora faz parte do circuito do I borghi più belli d’Italia, associação que promove as cidadezinhas com valor histórico e artístico na Itália.

A cidade é conhecida como Città delle Streghe, ou cidade das bruxas, e esse “apelido” não foi dado sem motivo.

Nos anos de 1588 e 1589, diversas mulheres da cidade foram acusadas de terem causado uma seca que já durava mais de dois anos, além de outros crimes, como assassinatos de crianças.


Leia também: A caça às bruxas em Triora – a Salém da Itália


As “bruxas” foram presas, torturadas e algumas delas, mortas. Por isso, Triora é conhecida como a Salém (cidade dos EUA onde também tiveram bruxas acusadas e mortas) da Itália.

Hoje, Triora explora seu passado como forma de atrair turismo, sendo seu “Halloween” muito famoso.

Além das bruxas, a cidade oferece muitas outras coisas para se conhecer e visitar.

Se você estiver curioso(a) sobre o que tem naquele lugar encantador, leia nosso pequeno guia sobre Triora!

La Grotta di Lourdes

La Grotta di Lourdes – Triora

É uma pequena gruta dedicada à Nossa Senhora de Lourdes.

O pequeno santuário foi construído no meio das pedras em 1914 por iniciativa de um pároco local e ostenta uma bela madonna, ou seja, uma imagem da santa à qual a gruta foi dedicada.

I Portali in Ardesia

Portal em ardósia – Triora

Na parte alta da cidade, onde os nobres e ricos viviam no século XVI, pode-se ver portais esculpidos em ardósia, que adornavam as casas dos bem nascidos.

Esses portais são talhados e mostram a arte da época, dos idos de 1500. Inscrições, desenhos e brasões evidenciavam a riqueza dos antigos moradores.

Palazzo Stella

Palazzo Stella – Triora

Construído no século XIV, o palácio possui numerosos quartos e diversas pessoas de poder nasceram e morreram nele, incluindo prefeitos, religiosos e diversos oficiais dos mais altos cargos.

Contudo, o palácio ficou conhecido mesmo por ter servido de prisão em 1588 para mulheres que tinham sido acusadas de bruxaria. Inclusive, uma delas se jogou pela janela por não suportar mais as torturas que vinha sofrendo.

Hoje, o palácio é a sede do Museo etnostorico della stregoneria (M.E.S.), museu dedicado a contar a história da “caça às bruxas” que ocorreu na cidade.

Curiosidade: apesar de Isotta Stella, acusada de bruxaria, ter morrido quando caiu da janela quando tentava escapar das torturas que sofria para “confessar” suas bruxarias, o palácio não tem esse nome por causa dela, mas por causa de uma família poderosa da cidade que tinha o mesmo sobrenome.

Museo Etnostorico della Stregoneria (M.E.S.)

Museo Etnostorico della Stregoneria

O museu ocupa quatro salas do Palazzo Stella e lugar melhor para abrigar essa coleção não podia se escolher, já que lá foi local de prisão e tortura de algumas das “bruxas”.

A primeira sala do museu abriga a coleção esotérica “Pio Breddo” com diversos talismãs e elementos mágicos usados por povos do mundo inteiro .

Parte da coleção esotérica da primeira sala

A segunda sala abriga representações artísticas de deusas, espíritos e criaturas mágicas, do suposto panteão imaginário das acusadas.

Bruxinhas voando na segunda sala

A terceira sala apresenta exemplares de ervas e fragrâncias que muitas das mulheres usavam pelas propriedades curativas.

Aqui se pode sentir os aromas das ervas da terceira sala

A quarta sala possui um ambiente sombrio e abriga textos antigos falando sobre a maldade e das bruxas. Por meio de textos e de um documentário que passa em uma tela, conta-se nessa sala a história sobre o processo das bruxas de Triora.

Texto antigo sobre bruxas e no reflexo do vidro uma cena do documentário sobre Triora

La Collegiata

La Collegiata

A igreja neoclássica, renovada em 1770 foi construída em mármore e pedra negra.

Ela representa os tempos áureos do cristianismo. Em seu interior é possível ver importantes obras de arte religiosa e objetos elaborados pelos mais finos artesãos da época.

Oratorio di San Giovanni Battista

Oratorio di San Giovanni Battista

Essa pequena igreja, pintada de amarelo e com portal adornado em mármore com a imagem de São João Batista, chamada de Precursore, datada de 1694, esconde em seu interior inúmeras obras de arte religiosa dos séculos XVI e XVII.

Não precisa ser católico para poder apreciar as maravilhas artísticas e culturais contidas nas lindas igrejas de Triora!

Chiesa di Santa Caterina d’Alessandria

O aspecto rústico causado pelo tempo, deixa a fachada a igreja ainda mais interessante. Ela nos leva a uma viagem no tempo, mais exatamente no fim dos anos 1300.

Não espere encontrar obras de arte ou robustos móveis em madeira, pois a igreja, hoje, está em ruínas. Porém, vale uma visita, porque a beleza dela ainda é de se apreciar!

Il Castello

Construído sobre o alto de uma rocha pela República de Gênova, o castelo foi erguido para defender suas fronteiras, juntamente à quatro outras fortalezas.

Ele sofreu avarias durante anos, muitas vezes pelos mesmos habitantes de Triora, em protesto contra os altos impostos cobrados. Porém, sendo o castelo de importância vital à segurança de Gênova, ele sempre era reconstruído.

Hoje, o castelo está em ruínas, de novo, dessa vez para sempre.

Vale a pena visitar o local que já foi de importância estratégica contra ataques à República de Gênova.

La Fontana Soprana

Fontana Soprana (na foto só deu para capturar a parte da fonte mesmo!)

A Fontana é a mais antiga e mais bem preservada da cidade. Ela possui arcos redondos construídos em pedras grandes e robustas.

Uma pia antiga em pedra e uma torneira ainda alimentam a fonte e é mesmo possível tomar água nela. A água que sai da fonte vem de um canal que traz água da região de Cürgala.

Sob os arcos, ao lado da fontezinha, ainda se veem portas e dobradiças fortes que guardavam o dinheiro dos impostos recolhidos na cidade, chamados gabelle. Ainda restam pedaços da muralha que protegia o local.

Sobre a Fontana foi construída (e ainda hoje está em pé) uma casa onde vivia o carrasco da cidade. Ele realizava as execuções fora das muralhas, em frente ao antigo matadouro municipal. Ainda hoje chama-se o local de Dübaìe, que no dialeto da região significa “matar”.

San Dalmazzo

A igreja, possui uma única entrada e a uma torre do sino. Ainda existem grandes bancos com as costas largas nos quais costumava sentar-se durante as celebrações.

Outros objetos que estavam lá foram, por segurança, transferidos para o oratório de San Giovanni Battista, incluindo a de San Dalmazzo, feita em 1839 pelo famoso escultor genovês Paolo Olivari.

Rizettu

A região possui diversas construções em ruínas, que serviam de armazém para garantir o suprimento de alimentos em caso de guerra.

Nessa área se encontra uma casa chamada Asplanate Megia, onde parte das mulheres acusadas de bruxaria ficaram presas. Hoje o local está em ruínas, devido ataques sofridos na Segunda Guerra Mundial.

Pão de Triora

Pane di Triora

No passado, Triora fornecia boa parte do trigo e dos grãos da República de Gênova.

Pela tradição de produtora de grãos, a cidade também ficou conhecida pelo seu pão especial, produzido apenas lá. Hoje, apenas uma panificadora produz esse pão, de modo artesanal e o vende na cidade e distribui para algumas outras localidades da região.

É um pão rústico, arredondado, feito com farinha de grão sarraceno. Ele pesa cerca de 850 gramas e é cozido envolto em folha de castanheira para não grudar no forno.

Não perca a oportunidade de experimentar um produto tão especial, artesanal e exclusivo!

Strigora

Todos os anos, uma semana após o feriado italiano de Feragosto (15 de agosto), acontece em Triora a Strigora, a mais importante festa da cidade.

Nesse dia, a cidade inteira entra em clima de festa e visitantes de todas as partes podem se divertir no mercado medieval, fazer visitas guiadas pela cidade e apreciar apresentações teatrais.

Bônus

Triora Pré-Histórica

A região é habitada desde o período Neolítico, cerca de 3880 e 3000 a.C,, quando seus primeiros moradores se refugiavam em grutas a procura de segurança contra os perigos da natureza.

Encontram-se testemunhos dessas civilizações em cavernas da região, como a Caverna delle Arene Candide e a de Pollera, além de Tana della Volpe, onde encontraram pedaços de objetos, como vasos e ossadas.

Ainda foram encontrados nas grutas e cavernas da região de Triora, indícios de civilizações da Eneolítica, Idade do Bronze e do Ferro.

Considera-se a região como um importante sítio arqueológico, devido a esses indícios de civilizações antigas na área.    

É realmente um lugar especial, onde traços de diversos períodos da civilização humana podem ser encontrados, um verdadeiro museu antropológico natural.

Se você tiver interesse, pode sair do centro da cidade para explorar as belas grutas e cavernas da região!

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